domingo, 10 de abril de 2011

A cada manhã Maria tecia seu dia.

Preparava o café, assava o pão, mandava as crianças para a escola.

Planejava os momentos de descanso, os alinhavos das roupas, a conversa com as vizinhas, as compras.

Certa vez não houve manhã. Os pássaros não cantaram e o dia não nasceu.

Ficou escuro. Uma semana de escuridão e o dia clareou. O povoado estranhou.

Chegou a noite e a lua não mudou. Era a mesma da semana anterior. Desta vez o relógio parou, a lua não mais se moveu e a maré secou.

Maria rezou. Não sabia se pedia para escuridão voltar ou para a lua mudar. Rezou em desespero palavras desconexas. Chorou e não mais falou. Não por falta de vontade mas por ausência das vogais que não encontravam as consoantes e desta forma não havia palavras.

O povoado emudeceu. Maria retirou-se de casa e caminhou. Quando não mais sabia para onde ir começou a girar ao redor de si num ato de loucura e agonia. Girou, girou, girou e aumentou a velocidade. Girava com os braços abertos a cabeça tombada para o lado, o corpo preenchendo o espaço entre o céu e a terra. Girava como uma vez já girou o mundo.

E Maria acordou. Levantou-se, preparou o café, assou o pão, mandou os meninos pra escola. Sentou-se na cozinha, pegou lápis e papel e teceu o seu dia.

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